quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

[ESSE POEMA NÃO EXISTE]

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[ESSE POEMA NÃO EXISTE]



(Esse poema não existe.
favor não leia esse poema. rasgue-o.
imagine-o em branco ou preto oco vazio
apenas porque ele contêm palavras
como: rachaduras, abismos, fedores,
temores, tremores trágicos, ojeriza gratuita,
preconceitos torpes tortos tolos,
desonestidade, devastadora fome
homens aprisionados vociferando
dentro de um inferno condicionador.

explorações milenares,
choros agudos de crianças órfãs à guisa de guerras grotescas.
descasos, descrentes crenças, desesperos ásperos.
esse poema não existe.
esqueça-o! não tem conteúdo nem tampouco cabimento.

as palavras serão sempiternamente abstratas
e os atos concretos por demais –
contudo, estou tão ensimesmado,
ressabiado e lúgubre.
não sei por que ainda insisto
em escrever isto...?!

tantas desgraças, tantas desgraças,
tantas desgraças desabam
sobre nossas casas
através de avalanches midiáticas
mesmo que, insolentes,
despretensiosa ou pretensiosamente
nos achando imunes a tudo e a todos.

leia e ouça, viu:
delete esse poema do seu banco de dados da caixa craniana de memória
esse poema não existe jamais existiu.)




FELIPE REY

4 comentários:

Leonardo Rodrigo Correa disse...

Existir ou não. Persegue-nos a dúvida essencialmente e desde sempre. Tem ainda mais relevância que ser ou não. Creio.

Há tempos, lendo um poema belo de uma cara amiga, comentei: "Usa tão bem as palavras já existentes que parecem mesmo tê-las inventado." Isso se aplica também a você, Felipe. Até mesmo seu lembra poesia.

Prossiga.

DIABLOG disse...

acaba de existir prá sempre

Cris de Souza disse...

Minha impressão foi exatamente o contrário...

Patrícia Müller disse...

muito bom.

 

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