sábado, 31 de agosto de 2013

anti-epopeia invocada ou elegia entusiástica

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agora vou tocar o barulho da cidade
ainda que seja tarde para tocar
agora ninguém dormirá cedo
porque ainda há sempre um com medo
agora um outro fica mais quieto
ontem eu até estava mais perto
agora ando distante da luz
hoje teu sangue vira vinho vira água vira pus

agora ninguém acredita em anjos
antes os anjos eram só pinturas
agora eu desmancho meus sonhos em prazeres
antes meus sonhos eram mais puros
hoje eu já me sinto bem mais maduro
antes eu me permitia distraído
não percebia as coisas pela simplicidade
hoje eu vou tocar o barulho da cidade
agora que tenho certa idade
posso entender tua crise de personalidade
em viver de fachada sem compromisso com nada
a gente só aprende tomando e dando porrada
hoje você manja minha vida
inclusive, meus depoimentos na delegacia
por perturbar a paz social e por porte de trocas
de informações relevantes pra nós
pois só a poesia mesmo pra desatar nós
hoje a minha voz atinge o alcance
que eu quero após muitos vagidos
agora na hora da revanche
atendendo todos os perdidos
hoje quem será o tal ungido?
hoje em quem podemos confiar?
num mundo de desvalidos
vamos nos misturar aos bandidos
agora me aqueço de calor humano
agora esqueço que eu sou insano
desajeitado desajustado profano
agora teclo o meu piano
a música do ano
que tantos estão desprezando
a música elétrica dos fios desencapados
dos postes arrancados por carros desgovernados
das sirenes da ambulância, dos bombeiros e da polícia
dos jovens apressados e desesperados com cobiça
há música e poluição por todos os lados
você não ouve? parece sedado
agora sou meu próprio aliado
contra atitudes soberbas e pensamentos monocórdios
com o coração regido por batidas de amores e ódios
fazendo a cidade tocar meus acordes
impossível ninguém nem você não escutar estas odes




felipe rey

sexta-feira, 12 de abril de 2013

meu bom comportamento é ver

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meu bom comportamento é ver vulvas como válvulas
sendo engrenagens engatadas a seduzir meus sentidos
sentidos ferventes efervescentes a mover coisas novas 
que aparecem pelas noites foras ou dentros de outras feras

de outroras auroras que eu persigo em explicar realmente
despido de realejos e decências na mesa de jantares inóspitos
eu que sou um sabiá ressabiado que sabia sabia dos sábados 
agora sou orgulhosa serpente dos sebos sebentos das estórias 

que trovadores traficados de sílabas sibilam em mim tais motins 
e tranquilamente indiferente eu assimilo em cada invento fomento
ideias e ideais que transpassam limites, labirintos e labirintites 

dos ingênuos ingênios desse mundo que não entendem as vogais 
primordiais que dão o ponto-de-partida na exatidão do delírio quotidiano 
de beber todas as fontes de saberes e sabores onde nos levam ao além-mais 




Felipe Rey

terça-feira, 9 de abril de 2013

indigníssimo

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todo dia é a mesmíssima história
acordar cedo, trabalhar e me fuder
tudo isso para não enlouquecer
e ir em busca de uma simples glória

também assim chamada estabilidade
ou outro vulgo nome: - vaidade
carreira, sucesso, dinheiro e poder
pra quê? se a gente vive pra no fim morrer

o importante é ser mais do que feliz
consciente e firme no que se diz
nessa saudade a necessidade nessa cidade

é aspirar sentimentos de sonhos
e realizá-los ante os aspectos medonhos
desse rebanho humano que foge sempre da liberdade

Felipe Rey

quinta-feira, 4 de abril de 2013

cerveja, cachaça e cigarro


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cerveja, cachaça e cigarro
maravilhas pr'uma voz rouca
se tudo assim for vontade pouca

tão desprezível quanto catarro

frágil carne, escárnio e escarro
pra produzir uma paixão mouca
na fechadura tosca de uma boca
que não consegue tirar um sarro

mas a vida tem sempre um escape
basta encontrar alguma coisa que caiba
num desejo viril e solene

onde nenhum véu sequer tape
basta saber, basta saber e saiba
que o amor verdadeiro é todo perene 




Felipe rey

segunda-feira, 1 de abril de 2013

soneto du bagúio

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eu sou a pedra no caminho
nos chinelos e dos sapatos
eu sou o pão e o pau da vida
a poesia e os vapores baratos

eu sou o Cantagalo e a Fazendinha
eu sou o Índio de pero vaz de caminha
eu sou a castanha de caju da Paraíba
sou a pinga jurubeba ataliba

eu sou o preto da carapinha
sou a pimenta da quentinha
e os 80kg granfinos de farinha

eu sou a raspadinha da laranja
aquele que todo mundo manja
e que jamais sequer andou em linha



Felipe Rey 

sábado, 16 de março de 2013

o cerimonial


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aqui
jaz
nesta
jaula de janelas
um homem que 
ñ fez panelas
ñ fez planilhas

mas q editou ilhas 





f. rey

segunda-feira, 26 de novembro de 2012






XXII


tão polida
                                                          melindrosa
melindrada
seu salto agulha
quebra na estrada

não serve pra subir

quebrada

coitada

tão polida

tão pálida

meu crime

foi assaltar

teu sol

teu mar
teu dia
minha patroa
a poesia
não segrega
nenhuma pessoa 




F. Rey 


domingo, 23 de setembro de 2012

srtª Paula Olívia

,

dela 
os homens 
querem a sua rês tresmalhada 

nela

a carne é curtida
nas carreiras da alta madrugada

ela 

desarreia e apeia 
a castidade dos cintos da mulecada 




felipe rey

terça-feira, 11 de setembro de 2012

como uma ave implume

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não sente amor nem mormaço
no peito entulhado de queixumes
queixo caído e semblante boquiaberto
ela toda aos choros e chorumes

pode ter ela perdido o costume
de cheirar a flor de chico laranjeira?
esta flor de raríssimo perfume
que inebriava sua manhã tão ligeira?

agora seu peito é só pesadume
em cada pé e mão um inchume
mas sua formosura ainda é evidente

ela liga o mp4 e aumenta o volume
e procurando esquecer seu amarume
incólume, traga sua solidão aguardente


Felipe Rey

domingo, 19 de agosto de 2012

estudo-soneto sobre tela de Monique Rosa Brasil

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está pintado em negrito
a palavra inocente.
antes das 7 toca o apito

logo um aglomerado de gente:

pássaros de asas em retalhos
debatendo-se no batente.
atos e atalhos falhos
em cada mês vivente.

olhos roxos
e a rudeza
da missão complacente.

ideais frouxos
pela frieza
da alusão de quem mente.


Felipe Rey

domingo, 12 de agosto de 2012

pra raça

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todo dia é um desague de cachaça
nos olhos torrados de amendoim
lasca-se a carne como crassa
falta de ser a sempre fraca
sobrepujante a golpes de faca
indiferente a qualquer tempo ruim

minha carne criola crisol
creosotando tua pele carmim
jambo melaninado ficará enfim
sobreexcitará a circunviciar-se ao sol

então hoje é mais um dia de cachaça
deixa eu te pegar na praça
e na grinfa ganhar melodia de cara.



F. Rey
 

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