segunda-feira, 1 de março de 2010

Extenso Dia

 




Frio fim de verão
quase vendo a alma no varejo
por um conhaque de alcatrão.
estou extenuado
de ver refletido minha insígnia insípida figura no espelho do quarto.

sinto
meu santo pouco tranquilo
dou rodopios,
ensaio assovios,
luto com o meu corpo
como se fora um faixa-preta de jiu-jitsu.

Vale tudo
por um conhaque de alcatrão
eu não?
eu não confio nem na própria sombra que me arrefece da febre fremente
que convulsa a tessitura dessa carne encardida que me envolve.
tirante o fato de ter sido morador da Rua José Sombra
(que rua é essa?) em Irajá
nunca mendiguei já mendiguei
na Mem de Sá
lá pra dentro da Lapa adentro:
plectro firmamento movimento

movimento movimento movimento
rodam moinhos na engrenagem do vento.

frio fim de verão
apenas meu cavanhaque disforme
me agasalha
peito aberto, blusão sem botão.
noite vago perto do meu portão
e nada nada
nada de conhaque de alcatrão.

fica pra outra hora,
então.

é tudo tão intenso
tão tenso
que minto
dizendo:

estou extenuado.
me acorde hoje. nããããããããão!
me acorde amanhã depois do almoço.





Felipe Rey

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