quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SUJEITO TACITURNO


Um homem magro,
esquálido e taciturno.
Vestindo um terno amarrotado
quase roto.

Por debaixo do braço
esquerdo
carrega uma garrafa
mal-embrulhada de Velho Barreiro.

O sujeito estonteado,
estatelado, escorrega.
Bate com a face no poste.
Caído. Ele puxa do fundo
da algibeira,
um cigarro envergado
guardado
de anteontem.

Há um despacho bem ali.
Penas picotadas de galinha preta.
Um alguidá com farofa abundante.
Um copo de vidro com cerveja quente
e um cálice de licor de anis
com frutas cítricas –
além, de sete velas acesas.

O matuto maltrapilho se arrasta.
Acende seu cigarro em uma das velas.
Com apenas duas goladas, bebe,
vomita todo o farelo da farofa
e todos os resíduos das frutas.

Ao chegar em seu prédio,
desaba feito pedra
na entrada.
O porteiro somente se dá
o trabalho de enlear-
lhe com a coberta.

FELIPE REY
¹

7 comentários:

Max da Fonseca, disse...

Deitado vê-se com menos esforços o céu.

Muryel De Zôppa disse...

sabe que me identifico com a nóia.

Abraão Vitoriano disse...

É muito boa a maneira como fala dos temas sociais... Tens um ótimo jogo de cintura com as palavras, já havia lido outras vezes... valeu!

Lúcia disse...

Curti demais o "aguidá" e o "enleá-lo!!
Vc misturou Bucovski com Machado de Assis..
Sabe que ficou bom?

Beijos, poetinha-rey

Caos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Caralho velho , curti pakas!!
Te achei numa comu do Fonsecão
Vou dar um favoritada no blog para passar aqui mais tarde.
Abraço!!

gilson figueiredo disse...

esse pais começará sua grande literatura quando resolver o problema do estomago:& seu poema é muito sensivel, parabéns...
vale!

 

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